Meses, talvez até anos volvidos, existe um leitmotiv que não consigo deixar escapar, e que não resisto em partilhar neste blogue. Trata-se do amor aos Estados Unidos da América, essa grande Nação, que me chega de toda a parte ad nauseum. Vejo uma preocupante overdose de deslumbramento cada vez que a Clara Ferreira Alves faz uma reportagem dos subúrbios de lá, a Oprah vocifra algo, os hambúrgueres são promovidos à incrível condição gourmet e o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros assina os mais mirabulantes tratados transatlânticos.
Estas linhas que se seguem não correspondem a nenhuma crítica de costumes, tanto mais que este não é um hate site, como outros que por aí vegetam. Não odeio ninguém, muito menos um país que, nas palavras de Oscar Wilde, "passou da barbárie à decadência sem passar pela Civilização". E já que neste blogue só se tecem elogios, quero apenas aclamar aquilo que não é americano e que, pela ordem dos tempos, podia ter sido aprimorado no Novo Mundo mas que, afinal, não correu tão bem assim.
Muitas são as razões evocadas para legitimar a histeria americana. Que é do outro lado que nasceram valores como a Liberdade, a Tolerância e a Igualdade. Thomas Jefferson publicou, de facto, o mais visionário dos documentos, a Declaração de Independência. Mal saberia o senhor que, duzendos anos volvidos, todos os princípios seriam trespassados e moldados aos interesses mais lobbistas que Maquiavel poderia alguma vez imaginar. Só assim se explica que, num país de oportunidades, o Sonho Americano se tenha esfumado numa sociedade incrivelmente racista, classista e doente. Uma selva onde se morre mais cedo, porque o Seguro de Saúde não cobria aquele tumor malígno.
A história nos dois lados do grande charco toma dimensões distintas. Não deixa de ser surpreendente que a Europa Absolutista tenha sido palco de incessantes manifestações de vontade popular, que culminaram na concpção de um Estado Social. E mesmo entre as crises, todos os países europeus, os mais ricos e os mais pobres, têm mais igualdade social que a (ainda) denominada Super-potência Global. É por isso que o Estado-Providência, uma criação europeia, alicerçada na tradição religiosa, na caridade e na assistência e que permitiu realmente alavancar o nível de vida das pessoas, merece o meu mais sincero elogio.
Também a Europa se aburguesou, como é evidente. A partir do Renascimento, o que era rotulado de profano de forma proibitiva, ganhou um lugar maior nas Artes e nas Ciências e sofisticou-se. Nas Artes, surgiram novas formas de expressão Lírica ou novas Escolas de Pintura. Privilegia-se não só a mestria técnica, mas também as emoções estéticas, e a criatividade. A tradição cultural, alicerçada na Antiguidade, produz obras intemporais, algumas das quais seriam compradas por milionários americanos. Já no Novo Mundo, noção europeia, por sinal, a lógica mercantilista ditou padrões de obsolescência que se tornaram intrusivos, a ponto de ditar o aparecimento do entretenimento, essa sim, talvez a maior realização cultural dos Estados Unidos. Os espectáculos em Broadway esgotam-se e terminam ao fim de pouco tempo; os desenhos da Disney deixam pouco mais de uma geração a sonhar, e as baladas dos Chicago tornam-se inaudíveis ao fim de 20 anos. É que o Mundo, dir-se-á, acaba por mudar tanto que tudo fica esquecido, numa amnésia colectiva que torna as pessoas reféns do último Hit.
Quando se fala em sofisticação, os Estados Unidos dizem-se exímios em tecnologia. A ficção científica, talvez um género cinematográfico verdadeiramente americano, baseia-se nessa fixação pela tecnologia, pelo robô que não sente mas que, pela perfeição com que foi criado, domina a Terra e os seres humanos. Valoriza-se menos o lirismo, o erotismo e o valor dos sentimentos verdadeiramente humanos. Mas é importante frisar que até as grandes invenções tiveram palco na China, no Mundo Muçulmano e na Europa. Houve ainda europeus que, aliciados pelo salário, foram para os Estados Unidos fazer descobertas importantes, mas Einstein e Tesla não deixaram de sorver o conhecimento e ganhar mestria no Velho Continente. E não nos esqueçamos que o inventor da Internet é Europeu.
Mesmo com todas as restrições, a ascensão meteórica de um país novo não deixa de ser um mistério. Mas lá porque foi nos Estados Unidos que se lembraram de ir chupar o petróleo da terra, e onde os banqueiros se tornaram peritos em crises económicas e Crashes bolsistas para engordar à custa da raia miúda, nada disto significa que o poderio se mantenha por muito tempo. O Polícia do Mundo pode ser rico em porta-aviões, mas nada impede uma multidão de ficar à fome dentro das suas fronteiras por causa do furacão Katrina, perante a impotência das autoridades. Porém, no doloroso trilho da Decadência, os Estados Unitos têm ainda poder para arrastar o Velho Continente e o restante mundo Ocidental para a Barbárie.
Na encruzilada desta Guerra Fria de várias frentes, tudo parece ser efémero. Mas a Europa, tal como outras regiões do planeta, sabe mais por velha que por sábia. Talvez tenha chegado a hora de firmar as diferenças, em vez de continuar continuamente a pedir desculpa por existir.
Estas linhas que se seguem não correspondem a nenhuma crítica de costumes, tanto mais que este não é um hate site, como outros que por aí vegetam. Não odeio ninguém, muito menos um país que, nas palavras de Oscar Wilde, "passou da barbárie à decadência sem passar pela Civilização". E já que neste blogue só se tecem elogios, quero apenas aclamar aquilo que não é americano e que, pela ordem dos tempos, podia ter sido aprimorado no Novo Mundo mas que, afinal, não correu tão bem assim.
Muitas são as razões evocadas para legitimar a histeria americana. Que é do outro lado que nasceram valores como a Liberdade, a Tolerância e a Igualdade. Thomas Jefferson publicou, de facto, o mais visionário dos documentos, a Declaração de Independência. Mal saberia o senhor que, duzendos anos volvidos, todos os princípios seriam trespassados e moldados aos interesses mais lobbistas que Maquiavel poderia alguma vez imaginar. Só assim se explica que, num país de oportunidades, o Sonho Americano se tenha esfumado numa sociedade incrivelmente racista, classista e doente. Uma selva onde se morre mais cedo, porque o Seguro de Saúde não cobria aquele tumor malígno.
A história nos dois lados do grande charco toma dimensões distintas. Não deixa de ser surpreendente que a Europa Absolutista tenha sido palco de incessantes manifestações de vontade popular, que culminaram na concpção de um Estado Social. E mesmo entre as crises, todos os países europeus, os mais ricos e os mais pobres, têm mais igualdade social que a (ainda) denominada Super-potência Global. É por isso que o Estado-Providência, uma criação europeia, alicerçada na tradição religiosa, na caridade e na assistência e que permitiu realmente alavancar o nível de vida das pessoas, merece o meu mais sincero elogio.
Também a Europa se aburguesou, como é evidente. A partir do Renascimento, o que era rotulado de profano de forma proibitiva, ganhou um lugar maior nas Artes e nas Ciências e sofisticou-se. Nas Artes, surgiram novas formas de expressão Lírica ou novas Escolas de Pintura. Privilegia-se não só a mestria técnica, mas também as emoções estéticas, e a criatividade. A tradição cultural, alicerçada na Antiguidade, produz obras intemporais, algumas das quais seriam compradas por milionários americanos. Já no Novo Mundo, noção europeia, por sinal, a lógica mercantilista ditou padrões de obsolescência que se tornaram intrusivos, a ponto de ditar o aparecimento do entretenimento, essa sim, talvez a maior realização cultural dos Estados Unidos. Os espectáculos em Broadway esgotam-se e terminam ao fim de pouco tempo; os desenhos da Disney deixam pouco mais de uma geração a sonhar, e as baladas dos Chicago tornam-se inaudíveis ao fim de 20 anos. É que o Mundo, dir-se-á, acaba por mudar tanto que tudo fica esquecido, numa amnésia colectiva que torna as pessoas reféns do último Hit.
Quando se fala em sofisticação, os Estados Unidos dizem-se exímios em tecnologia. A ficção científica, talvez um género cinematográfico verdadeiramente americano, baseia-se nessa fixação pela tecnologia, pelo robô que não sente mas que, pela perfeição com que foi criado, domina a Terra e os seres humanos. Valoriza-se menos o lirismo, o erotismo e o valor dos sentimentos verdadeiramente humanos. Mas é importante frisar que até as grandes invenções tiveram palco na China, no Mundo Muçulmano e na Europa. Houve ainda europeus que, aliciados pelo salário, foram para os Estados Unidos fazer descobertas importantes, mas Einstein e Tesla não deixaram de sorver o conhecimento e ganhar mestria no Velho Continente. E não nos esqueçamos que o inventor da Internet é Europeu.
Mesmo com todas as restrições, a ascensão meteórica de um país novo não deixa de ser um mistério. Mas lá porque foi nos Estados Unidos que se lembraram de ir chupar o petróleo da terra, e onde os banqueiros se tornaram peritos em crises económicas e Crashes bolsistas para engordar à custa da raia miúda, nada disto significa que o poderio se mantenha por muito tempo. O Polícia do Mundo pode ser rico em porta-aviões, mas nada impede uma multidão de ficar à fome dentro das suas fronteiras por causa do furacão Katrina, perante a impotência das autoridades. Porém, no doloroso trilho da Decadência, os Estados Unitos têm ainda poder para arrastar o Velho Continente e o restante mundo Ocidental para a Barbárie.
Na encruzilada desta Guerra Fria de várias frentes, tudo parece ser efémero. Mas a Europa, tal como outras regiões do planeta, sabe mais por velha que por sábia. Talvez tenha chegado a hora de firmar as diferenças, em vez de continuar continuamente a pedir desculpa por existir.