Adoro causas nobres, muito mais do que imaginas. Não sei se já te contei (nem todos precisam de saber) que sou uma pessoa de bem.
Já plantei uma árvore; esteja ela
viva ou morta, o que interessa é a intenção, até porque vi o presidente da câmara a
plantar a primeira, e mal seria se eu, como SIDAdão, não plantasse a minha.
Também já mandei aquela roupa (de
odores astringentes e cores folcloricamente berrantes e pindéricas) para os
putozinhos em África. Talvez eles apreciem, porque me ofende a vista e,
desde que vi as colecções Outono-Inverno na Vanity Fera, deixou de me servir. Nem sei porquê, a verdade é que eu nem
engordei.
A reciclaije tem em mim um grande adepto. Perguntei ao energúmeno do
lixo para onde ia o frasco de foie gras.
Ele ficou indeciso, coitado, e disse-me para ir ler o Manual. Agora ponho tudo
no sítio certo, até a Ignorância, que tem de ter sítio para onde ir. Mais
ainda: passei a comprar embalagens mais pequenas de sumos, champôs e cremes
para a pele: quanto mais coisas tiver e mais cheio e pesado estiver o saco, então
isso quer dizer que reciclo mais e tenho uma atitude mais proactivamente amiga
do ambiente. Pelo menos é o que os meus vizinhos vão pensar. E nem pensar em
arranjar coisas, que isso passou de moda.
É claro que já adoptei muita
coisa. Davam-me sempre uma t-shirt ou uma mascote. Essas guardo sempre. Também
me pediram para adoptar um cão, uma flor ou uma criança, mas isso ia ser uma
chatice, porque ia conspurcar a casa.
Adoro crianças. São todas umas
queridas. Quando sorriem ficam bem em qualquer fotografia, independentemente do
credo, côr ou religião. É por isso que, qualquer iniciativa que as envolva
conta com a minha ajuda. Principalmente se tiver Sorriso algures no seu nome. Crianças
tudo bem, mas não tenho jeito nenhum para dar apoio a idosos! Isso deve ser da
conta da Santa Casa da Misericórdia ou dos lares e centros de Dia, que são
imensos. Também não é preciso chegar ao ponto de pôr os "Velhos no
Velhão", como diziam os Gato Fedorento, num sketch genial feito em tempos. É claro que não! Mas compreendam-me:
eles só se queixam. Também não têm ideias de futuro. Prefiro respeitosamente
tratá-los por idosos em vez de velhos.
Finalmente, devo dizer que temos
de ser felizes e aproveitar todos os momentos como se fossem os últimos. E
torná-los especiais. E um momento é especial quanto mais caro for. A comida, claro está, não pode ter ossos, espinhas,
caroços, casca ou côdea. Quanto ao lazer, posso dar tacadas, mas tem de ser num
green, que esteja verde o ano inteiro, faça chuva ou faça seca. Nem que se sequem todos os rios de Marrocos. Andar
a pé só com bastão e com o patrocínio de uma marca de ténis mínimamente decente, porque os calos não fazem parte da vida.
Sou uma pessoa de gostos simples,
mas ainda assim deixo que me impinjam todo o tipo de objectos que, mais ou menos
úteis, dão-me todo o status de que preciso. Mesmo que correspondam a
desperdícios de recursos, porque ao menos assim a economia desenvolve. E espero não ficar cá para ver o mundo daqui a duas gerações.