27.1.12

o muro

Olho para um muro de blocos de cimento. Podia ser de qualquer outro material, para a sua função seria indiferente: separar duas propriedades agrícolas: numa cultivam-se beterrabas e noutra, courgetes. Este é o melhor exemplo de arquitectura, porque, segundo o Mies Van Der Rohe, há pelo menos dois tijolos bem colocados. Também estrutura o espaço, dividindo-o. Onde nada havia, deixamos de poder olhar para o outro lado e cuscar a cor das peúgas do estendal ou o estado do tempo.
Dividir o território é uma necessidade tão primária como comer (nem que seja rataui). Até os lobos o marcavam: "ei, aí não podes entrar, marquei isso com a minha urina". Então, e se um lobo tiver insuficiência renal? Passará a sem-abrigo? Será expulso da alcateia? Não é por isso que deixará de ser corajoso, que muda de personalidade ou cria multipla personalidade. Mas deixemos essa questão para o Freud; é melhor nem colocar essa hipótese clínica, ou então admitir que os rins dos lobos nunca falham.
Admitamos que não haveria barreiras olfativas e haveria livre circulação de lobos - é uma estupidez estarem de costas voltadas! Assim é com as alfândegas, portagens ou revisores de combóios húngaros ou bósnios. Não há, pintada nos muros, frase mais bela que "O MUNDO NÃO TEM BARREIRAS" Precisamente porque essa frase nega-se a si mesma, no descaramento daqueles para quem fugir da bófia é um fim e não um meio.