29.1.12

Metáfora do Amor

 
Caros leitores, o que vos proponho com este exercício de estilo é tão simplesmente uma reflexão sobre duas das coisas mais importantes na vida. O que relato é algo de verídico que me sucedeu há algum tempo num dos locais mais turísticos da Cidade de Lisboa. Enfim, trata-se de uma experiência visual e de um debate filosófico com alguns amigos decorrente dessa mesma experiência. Bom, para que não se percam na leitura deste excerto irei contar-vos como se sucedeu a coisa. 
         Eis que estávamos numa bela esplanada a estudar e, como de costume, dá-me uma vontade súbita de ir urinar. Uma vez que não fazíamos nada de importante, só tagarelávamos, foi com confiança que me levantei e desloquei aos lavabos. Como sempre utilizei um cubículo. Gosto de me enfiar lá pois estes costumam estar mais limpos e não têm velhos que se colocam no urinol do lado a fazer conversa mole. Mais, enquanto urinamos sempre podemos ler os rabiscos que estão nas paredes do cubículo. Sempre é divertido e o tempo passa mais depressa.
É sobre isso que vos quero falar: uma máxima de amor que aprendi numa porta gatafunhada de um cubículo de casa-de-banho pública. Li o seguinte: "Amar sem se ser amado, é como limpar o cu sem ter cagado". Confesso que a princípio fiquei algo céptico pois não tinha percebido, o que suspeito terá também acontecido com o leitor. Foi pois para esclarecer tal máxima que decidi discutir isto com aqueles que me acompanhavam. Após longa discussão em que o choque e a hilaridade, bem como o embaraço que o tema gera, foram constantes, chegámos à conclusão que limpar o cu sem ter cagado não vale mesmo a pena.
Chegámos a esta conclusão desmontando a bela metáfora. Pensámos que o acto de obrar dá-se quando tentamos amar alguém, pelo que o produto desse acto deverá representar o amor em si. Assim, se sair patavina significa que não há amor e uma pessoa que sofra de soltura terá, certamente, muito amor para dar. Como se não bastassem estas metáforas, concluímos ainda que o rabo que produz o dejecto representa o fulano que ama. E a mão que limpa o traseiro, a pessoa amada. Daqui surgiram várias hipóteses para testar esta teoria a todas as formas de amor… e de merda.
Sejamos mais claros. Cada um de nós, até o leitor que continua a ler-nos pacientemente, ao limpar os seus glúteos dos produtos da digestão estará, evidentemente, a masturbar-se. Isto porque é o próprio que provoca e limpa o seu amor e ainda retira algum prazer disso, o de estar limpo, é claro! Inversamente, se for alguém, que não o próprio, a limpar, com preferência pelo objecto do nosso amor, o amor é retribuído, pois é assim que funciona a coisa, o outro ajuda-nos sempre. Antagonicamente se puxarmos o lustre ao ânus sem o ter sujo é porque não existe amor de todo! Nem sabemos do que se trata, masturbação sem prazer parece-nos inverosímil... Contudo, se for outra pessoa a tratar da limpeza do nosso posterior e este tiver nada é porque não há amor ou, se preferirmos ser mais físicos, não há química. Mais, se não dermos consentimento para a limpeza tratar-se-á de um acto de violação cujas consequências não nos pareceram agradáveis.
Mas não parámos por aqui porque, como o leitor já concluiu há muito tempo, gostamos de levar a verborreia ao extremo, até ao cúmulo do ridículo. Agora que já entendemos então a lógica da coisa podemos dar azo a novas minudências, tendo sempre em mente que: quando pior for a situação existente entre os glúteos melhor nos devemos sentir! Portanto, se à equação adicionarmos o cheiro, textura ou forma podemos abarcar toda a complexa vida amorosa existente no mundo. Portanto, se houver diarreia demoramos mais tempo a limpar o cu e gastamos muito mais papel. Este é quase o amor puro! E pergunta o leitor: que é o amor puro? Bem, isso deixamos ao discernimento de cada um, mas conseguimos a fórmula para o identificar, o que não é mau de todo. O amor é puro quando a diarreia é tão líquida que só sai água pelo orifício! Esta será, sem margem para dúvida, a coisa mais bela de acontecer na vida! Mas aquém sofrer de prisão de ventre prolongada terá, sem dúvida, problemas a nível sentimental e deveria recorrer sem demora a chás laxantes ou a uma qualquer pomada na zona. Afinal é triste ficar toda a vida com o amor encalhado. Há ainda a hipótese de existir sangue no excremento, ou pedaços de comida mal digeridos. Se quanto ao sangue podemos generalizar e argumentar que a pessoa sangra por dentro, a comida mal digerida terá certamente razões menos obvias e terá implicações diversas quer se trate de delicias do mar ou feijão verde. De igual modo, as fezes coloridas, esse acontecimento que dá cor e vida aos nossos quartos privados, será tão complexa que necessitaríamos de um dicionário de cores, o que não acontecia no momento.

“Amar sem se ser amado, é como limpar o cu sem ter cagado”