7.4.12

das Palavras


                As palavras são algo de traiçoeiro. Não que elas próprias congeminem dolos ou nos enganem com sentidos dúbios! As palavras são algo de traiçoeiro pela importância que lhes damos. Dependemos delas para nos expressarmos. Quem não diz que está cansado, ou que está dorido? Mas a verdade é que nem sempre as palavras nos ajudam.
                No nosso quotidiano as palavras são algo de útil. Com três nomes: Comida Prato Mesa, conseguíamos transmitir a ideia de que a comida foi servida. Felizmente, como todas as coisas úteis criadas pelo Homem, podemos embelezar o nosso discurso e dizer: A comida foi servida no prato de Limoges, na mesa da sala de Jantar. Há até quem, com alguma arte e engenho, consiga transmitir algo de extremamente valioso: pensamentos, mas não creio incluir-me nesse grupo. Apesar disto atrevo-me a dizer que há situações em que nenhuma palavra pois pode salvar. Expressar o desejo de beijar a nossa amada nunca será tão eficaz como fazê-lo. No entanto o poder das palavras é tal que muitos caem nessa tentação, criando assim a ideia de que as palavras podem substituir as acções e, pior!, que as palavras resolvem tudo.
                Não é verdade! Quando sentimos a dor em nós, e não me refiro exclusivamente à dor física, não é falando sobre ela que passa. Substituir por palavras algo que nos enche a alma de forma avassaladora apenas distrai e ajuda os outros a compadecer-se de nós. Mas como é possível arranjar palavras para confortar um pai que perdeu o filho? Como partilhar com outros o nosso amor por alguém? São estas as situações em que as palavras nada podem. Como posso eu sentir verdadeiramente se me distraio a descrevê-lo a todos os que me rodeiam? Como descrever algo de que fujo? É impossível. Diz-se que as palavras são vento. Mas o vendo, quando se espalha demasiado, perde a força e torna-se numa brisa suave. E como descrever uma tempestade recorrendo apenas à suave brisa que nos aquece as faces?
                As palavras nada podem contra a força imensa do que nos move, são pálidos quadros feitos para exibição num ambiente acomodado. No entanto muitos quadros há que conseguem pôr os nossos corações a palpitar e movem milhões. É esta a força das palavras, é nisto que são traiçoeiras. As palavras são traiçoeiras, revestem-se de uma importância que não têm e tentam tornar-se incontestáveis.
É perante isto que o silêncio ganha significado, pela assustadora presença do indiscritível.